segunda-feira, 7 de junho de 2010

O dragão da Lagoa Negra

Profundas são as águas da lagoa negra
E cor de chumbo. Dizem que um dragão sagrado
Mora aqui. Olhos humanos
Jamais o viram, mas próximo à lagoa
Construiu-se um santuário, e as autoridades
Organizaram um ritual. Um dragão
Pode continuar dragão, mas os homens
Podem fazer dele um deus. Os habitantes da aldeia
Veem boas e más colheitas
Nuvens de gafanhotos e comissões do governo
Impostos e pestes como desígnios do dragão sagrado.
Todos sacrificam a ele
Pequenos leitões e jarras de vinho, segundo os conselhos
De um deles, que possui poderes.
Ele determina também as orações da manhã
E os hinos do fim da tarde.
Salve, ó Dragão de muitas dádivas!
Bem-aventurado sejas, Vencedor
Salvador da pátria, és
Eleito entre os dragões, e eleito é
Entre todos os vinhos o vinho do sacrifício.
Há pedaços de carne nas pedras em volta da lagoa.
A grama diante do santuário está manchada de vinho.
Não sei quanto de suas dádivas
O dragão come. Mas os ratos dos arbustos
E as raposas dos montes estão sempre bêbados e fartos.
Por que estão assim felizes as raposas?
Que fizeram os pequenos leitões
Para que sejam mortos ano após ano, somente
Para agradar às raposas? O dragão sagrado
Na profundeza mil vezes escura de sua lagoa
Sabe ele que as raposas o roubam, e comem seus pequenos leitões?
Ou não sabe?


(Po Chu-yi)

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