segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Contos do fim do mundo II

Um diálogo sobre Bad Moon Rising


- Este é um sinal - avisou Pedro. - Só pode ser um sinal.
- Sinal de quê? - indagou João, perplexo.
- Do fim do mundo - respondeu. - Não está ouvindo a música?
João parou para ouvir. Era uma música cantada em inglês. Não entendia o significado. Claro que não entendia. Trabalhara bastante para poder pagar o curso de inglês de Pedro e não sobrara nada para si. Não reclamava, pois esta era a função do irmão mais velho: preparar o caçula para a vida. E o mais novo sequer sabia trocar um pneu.
- Está tocando Bad Moon Rising - esclareceu Pedro. - do Creedence.
Esperou que João associasse algo óbvio, mas sabia que isso não aconteceria. Sempre tivera que explicar tudo para o irmão mais velho, até as coisas mais simples. No fundo, Pedro sentia-se pouco a vontade por conhecer coisas mais complexas do que o irmão. Por frequentar a universidade enquanto João abandonara o ensino médio.
- Hoje é 20 de dezembro, João - lembrou, impaciente. - E está tocando Bad Moon. Há quanto tempo não ouvimos essa música? Ela prevê o apocalipse! O mundo vai acabar. Os Maias previram.
João sabia que Pedro sempre tinha ideias e associações malucas. Detestava esta característica, mas compreendia que no fundo, Pedro era alguém que precisaria sempre de sua proteção. Foi assim quando precisou defendê-lo na escola dos meninos mais velhos, foi assim quando o encorajou a conversar com a menina por quem estava apaixonado.
Pedro detestava aquele instinto protetor do irmão mais velho. Tinha a impressão de ser sufocado. Mas compreendia que aquela era a ausência do pai em suas vidas. João simplesmente fazia tudo o que queria que seu pai tivesse feito para ele.
- Não fale besteira - João voltou a beber. - Nada vai acontecer.
Não falaram mais sobre o assunto. Não falaram mais sobre nada.
João ficou apreensivo, afinal Pedro estudara muito mais. E se ele estivesse certo?
Pedro ficou confiante, afinal João entendia muito mais das coisas. Ele sempre estava certo!
Mas João decidiu uma coisa: se essa fosse a sua última noite na terra, pelo menos ensinaria Pedro a beber feito homem. 

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Conto do fim do mundo


- E se o mundo acabar amanhã?
Era vinte de dezembro de 2012, mas a pergunta o pegou de surpresa.
- Como assim? - perguntou ele.
- E se o mundo acabar amanhã? - repetiu a garota. - Toda essa história dos Maias, sabe?!
Aquela garota loira, com aquele sorriso espetacular, parecia ter saído de seus sonhos. Seus olhos se encontraram por um momento. Ah, aquele olhar! Finalmente tinha conseguido levá-la para sair, estavam em uma mesa de bar.
Ele cursava Administração, ela Pedagogia. Ele tinha família influente, ela não conhecera o pai. Estava decidido a impressioná-la. Pensou por um momento e começou a falar, inseguro no começo e mais animado conforme avançava:
- Acho que ficaria triste pela minha família. Mas vivi uma vida legal e batalhei bastante até aqui. Trabalhei muito, conheci muitos lugares, lutei pelos meus sonhos...
Ela permaneceu calada, observando as estrelas. Ele resolveu entrar em terreno incerto.
- Mas é óbvio que eu ficaria muito triste - arriscou - pois acabei de conhecer a garota com quem sempre sonhei...
Parou neste momento não por medo da reação dela. Pelo contrário. Parou pela inexistência de uma reação. A garota simplesmente não prestava atenção no que ele dizia.
- E você? - chamou a atenção. - O que faria se soubesse que o mundo vai realmente acabar amanhã?
Ela suspirou.
-Comeria uma lasanha inteira - respondeu a garota. - Sozinha.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Arte nas ruas inspira moradores

Projeto Pintando a Paz tenta dar nova imagem ao bairro Santo Afonso





Uma turma de amigos do bairro Santo Afonso, localizado na periferia de Novo Hamburgo, resolveu mudar a imagem do local em que vivem. Para tanto, realizam oficinas de grafite para adolescentes. Para estes jovens, os muros são suas telas e a tinta é a oportunidade de se comunicar. Desde maio de 2011 o grupo utiliza o seu talento para transmitir suas mensagens através do projeto Pintando a Paz.


“Tínhamos muitas ideias na cabeça e apenas um spray na mochila”, conta um dos idealizadores do projeto, o estudante do curso de história da Universidade Feevale Lázaro Delmar Frank. “Foi um parceiro nosso que contou que existia um edital do Ministério da Cultura para premiar ações como essa. Resolvemos, então, escrever a iniciativa e deu certo”, explica, referindo-se ao Prêmio Mais Cultura de apoio a microprojetos para territórios da paz, que premiou cerca de 40 ações realizadas no município.

Com o valor recebido o grupo pode ampliar o projeto, “foi aí que começamos a, além de grafitar, realizar oficinas e mostrar a diferença entre grafite e pichação, conseguimos atingir mais jovens”, comentou Lázaro, entusiasmado. “Recebemos o apoio da prefeitura com a elaboração do projeto, mas a iniciativa é nossa”, faz questão de informar.

Ação além dos muros


Lázaro, um dos integrantes do projeto
O bairro Santo Afonso comumente é noticiado nas páginas de jornais por crimes acontecidos na região, o que é para Lázaro uma distorção da realidade. “Nosso bairro tem muitos trabalhadores e pessoas de bem, pais e mães de família que dão o seu suor para sustentar suas casas. Mostrar apenas os problemas é não respeitar essa grande maioria da população”, afirma.

Por esse motivo, desde 2010 o bairro é considerado um “Território da Paz”. Trata-se de um projeto do Ministério da Justiça que destina ao bairro um conjunto de ações afirmativas e políticas públicas que visam melhorar a qualidade de vida e auxiliar aquelas pessoas considerados em situações de vulnerabilidade social. Lázaro considera a ação importante, mas acrescenta que “não pode ficar só nisso”.

Assim, os jovens encontraram outra maneira de se mobilizar: “Nossa arte é um caminho direto até o morador, grafitando um muro passamos nossas ideias, nossos sonhos, nossas angústias. Trata-se de melhorar a autoestima daqueles que nos cercam dando-os mais respeito. Para nós, o muro deixa de ser simplesmente um pedaço de concreto, acho que para os donos também”, enfatiza.

A artesã Mara Saul e sua filha Cíntia Saul. Cederam o muro
e não se arrependem
Dessa maneira, os grafiteiros tem atraído atenção: “No primeiro muro que grafitamos, as pessoas paravam para dizer que estava bonito e perguntavam se podíamos pintar as suas casas. A aceitação está sendo ótima”, comemora.

A artesã Mara Saul confirma as palavras do artista: “As pessoas perguntam quem nós contratamos para fazer o trabalho”, brinca com um sorriso no rosto. “Já havíamos pintado com tinta branca no mínimo duas vezes, mas sempre foi rabiscado. Desta vez continua bonito”, afirma. “Minha filha colocou uma foto do muro no Facebook e muita gente elogiou. Hoje nos procuram para saber como pintar as suas casas e eu indico, pois conheço o trabalho dos guris”, conclui.




O contraste é visível. O muro de Dona Mara, grafitado há cerca de três meses continua com a pintura intacta, o que não acontece com a parede da Escola Municipal Harry Roth, localizada no outro lado da rua, onde se encontram rabiscos incompreensíveis. “Até o pichador se sente representado pela nossa arte, ele respeita. Nós também o respeitamos, mas queremos vê-lo sendo um artista”, afirma Lázaro, convicto.

Arte de protesto por paz e respeito


Muro com mensagem de paz
O símbolo que sobrepõe a letra N de “nuclear” a um D de “desarmamento”, que mais tarde seria popularizado pelo movimento hippie, ao ponto de hoje ser considerado por muitos um dos símbolos da paz, pode ser visto em quase todos os muros grafitados no bairro. “É a nossa mensagem. Não importa onde o cara vive e nem como ele vive. O que todos queremos é paz”, explica Lázaro.

João Alexandre finalizando sua arte
Mas quem acompanha o trabalho dos jovens percebe que a palavra respeito não está apenas em seu discurso, mas em suas ações.O aluno do 1º ano do ensino médio do Colégio Estadual 25 de Julho João Alexandre lembra que nunca havia grafitado “não sabia a diferença entre grafite e pichação”, conta. “Agora estou convencido que o bairro está melhor e mais bonito”.

Para Lázaro, o grafite auxilia na conversão de pichadores em artistas, mas o jovem está longe de condenar quem está seguindo outros caminhos. “Quem picha muros também está procurando um espaço, está querendo dizer alguma coisa. Temos que ouvi-los e trazê-los para o lado de cá. Dar uma oportunidade”.

Sobre os planos para o futuro, Lázaro os tem na ponta da língua: “queremos continuar com nosso trabalho, chegar a mais jovens e mais casas”, conta, mesmo admitindo que não pretende ficar preso aos limites do bairro. “Vamos continuar priorizando o nosso bairro, mas já fomos convidados a dar oficinas em escolas de toda a cidade”, pondera.

Reportagem: Tiago Morbach | Fotos: Roberta Bocacio

domingo, 26 de fevereiro de 2012

UNE toma a avenida no Carnaval de Porto Alegre e volta para o desfile das campeãs


A homenagem aos 75 anos da União Nacional dos Estudantes - UNE, rendeu um lindo desfile da escola de samba Imperatriz Dona Leopoldina, no Carnaval de Porto Alegre.

Com o hino "Pra não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré, os mais de 1,6 mil integrantes da escola se aqueciam para abrir os desfiles e emocionar os presentes, com um samba enredo que contou toda a história da UNE, de sua criação até os dias atuais.

Com alegorias que mostravam a brasilidade, a irreverência e a combatividade do movimento estudantil, além de uma bateria nota 10 que contou com integrantes que usavam fantasias que lembravam a relação da UNE com a campanha "O Petróleo é Nosso" e a luta por 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a Educação, o público presente foi contagiado.

O presidente da UNE, Daniel Iliescu foi destaque do carro alegórico que lembrou a retomada do terreno da entidade, na Praia do Flamengo, 132. No twitter, Iliescu afirmou: "Sem palavras pra descrever o desfile da #ImperatrizDonaLeopoldina. O público foi ao delírio com a homenagem
aos #75AnosdaUNE".

Já o coordenador geral da União Estadual dos Estudantes (UEE Livre RS), Álvaro Lottermann, desfilou na ala Marcha do Povo, que reproduziu a Passeata dos 100 mil. Segundo ele, a homenagem é justa e "inspirada na profunda relação que a UNE tem com a cultura brasileira", afirmou. Também participaram da ala diversos presidentes de DCEs e militantes do movimento estudantil.

O belo samba enredo rendeu nota 10 para a escola e a Imperatriz retorna para o desfile das escolas campeãs, que acontece neste sábado (25).

Confira abaixo vídeo do desfile, produzido pelo jornal Diário Gaúcho, em que entrevista a ex- vice presidente da UNE e deputada federal, Manuela d'Ávila.


De Porto Alegre, Tiago Morbach
Fotos: Igor Correa, Mateus Bruxel/Agência RBS


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sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2012 parte I

Sabem aquele silêncio profundo que geralmente vem acompanhado de um frio na barriga que precede as grandes batalhas e é descrito em livros e filmes de guerra? Assim tem sido o meu último dia deste ano.

Foi em uma roda de samba em Porto Alegre que o ano começou e lá eu já costumava brincar que 2011 não existiria, ele seria a primeira parte de 2012, um ano para acumular forças.

Vencemos desafios gigantescos que pareciam muito maiores do que nós mas se apequenaram diante de nossa combatividade. Fomos atacados como nunca e respondemos à altura. Os raros momentos de descanso aconteceram ao lado de amigos que também suaram muito.

Foi um ano de desafios incríveis, de dúvidas, de respostas, de consolidação. 2011 permanecerá na minha mente como momento de amadurecimento, de fortalecimento, meu e de meus camaradas: pessoal, profissional e politicamente.

Foi um ano de agarrar com unhas e dentes nossos sonhos e de começar a sonhar tantos outros. Foi ano de Beth Carvalho, Marcelo D2, Leci Brandão e Martinho da Vila no Rio de Janeiro, foi ano de conhecer o morro do Pau da Bandeira na Vila Isabel e comer a maravilhosa feijoada da Tia Filó, de subir ao Cristo Redentor.

Foi um ano de blogs, twitaços, e-mails, mensagens, panfletos e fichas, no desafio de cuidar da comunicação da UJS/RS.

Foi ano de conhecer o brilho no olhar de milhares de jovens brasileiros no Congresso da UNE e de levar 300 gaúchos ao CLAE em Montevidéu.

Foi ano de conferência de juventude e de mudança no DCE Feevale. Foi ano de ver o crescimento da nova geração de militantes que construiu a maior bancada do país no Congresso da UBES.

Agora começa a segunda parte, aquela que nos preparamos há muito tempo! Aquela de grandes batalhas. Começa 2012!

Só desejo que entre nossas batalhas possamos continuar ouvindo aquele samba, acompanhado dos amigos, quem sabe comendo aquele xis do cavanhas ou tomando aquela cerveja do Retrô. Para o resto, estamos preparados!


domingo, 25 de dezembro de 2011

Bom dia camaradas


Chegam as férias e uma das vantagens é a possibilidade fazer leituras que não necessariamente pertençam à bibliografia das disciplinas e a primeira delas é justamente a obra que dá nome a este post.

"Bom dia camaradas" (editora Caminho) do jovem escritor angolano Ondjaki, possui leves 138 páginas e narram, em primeira pessoa, a história de uma criança ambientada na Luanda dos anos 1980, com seus grandes conflitos políticos, seu monopartidarismo, seus professores cubanos e sua esperança.
O autor conseguiu construir uma excelente obra que parece realmente ter sido escrita por uma criança, a partir de um olhar ingênuo que nos leva a conhecer as contradições do país da época, de forma muito simples, sem visões tendenciosas, apenas a imaginação infantil, para quem as provas de final de ano tem tanta importância quanto o momento histórico que se vive.


"Na minha cabeça chegou uma mistura de frases: um brinde à partida de tantos cubanos, um brinde ao fim do contacto com os camaradas cubanos, um brinde ao fim dessa colaboração de amizade daquele povo com o nosso, um brinde também ao fim do ano lectivo, um brinde, já agora, à partida do Bruno, um brinde ao facto de não sabermos quem fica na turma para o ano que vem, um brinde porque não sabemos se alguém vai escrever para estes professores cubanos, um brinde porque eles quando chegarem lá em Cuba, por causa do tempo cumprido em Angola, se calhar vão ter melhores condições de vida, quem sabe mais carne por semana, quem sabe um carro, quem sabe algum dinheiro a mais, quem sabe... Já agora um brinde às palavras sinceras do camarada professor Ángel, um brinde às palavras da camarada professora María, um brinde ao orgulho que ela sentiu ao ver o marido falar, um brinde aos rapazes desta sala que estavam também com vontade de chorar, um brinde à Cuba, por favor, um brinde à Cuba, um brinde aos soldados cubanos tombados em solo angolano, um brinde à vontade, à entrega, à simplicidade das pessoas, um brinde ao Che Guevara, homem importante e operário desimportante, um brinde aos camaradas médicos cubanos, um brinde a nós também, as crianças, as "flores da humanidade", como nos disse o camarada professor Ángel, um brinde ao futuro de Angola neste novo rumo, um brinde ao Homem do amanhã, e claro, como é que íamos esquecer isso, Cláudio?, Um brinde ao Progresso!"

Recomendo!!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Congresso da UNE: Nossa força e nossa voz

2005. União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. Brasília. Saudações A Quem Tem Coragem. Guri do Grêmio Estudantil descobre que nossos sonhos podem ser realizados, que vale a pena sonhar.

2007. UBES. Goiânia. Todo Mundo Pra Rua Aumentar o Som. Dirigente da UENH aprende como é organizar a bancada, fazer com que outros estudantes também percebam que vale a pena sonhar.

2009. UBES. Belo Horizonte. Arrastando Toda a Massa. Estudante no final do curso técnico e recém saído da presidência da UENH que não sabe se consegue entrar na universidade e tampouco sua próxima tarefa de militância. Nostalgia e esperança.

2011. União Nacional dos Estudantes - UNE. Goiânia. Transformar o Sonho em Realidade. Estudante de Jornalismo, bolsista do ProUni que sente todas as sensações anteriores mais intensamente.
Talvez existam poucos momentos tão propícios para a construção do país que a juventude quer como os Congressos da UBES e da UNE. Milhares de estudantes estiveram reunidos entre os dias 13 e 17 de julho em Goiânia para lutar pelo Brasil e pela educação. Milhares de estudantes dispostos a transformar o sonho de nossa geração em realidade.

Alguns dizem que a UNE não luta mais, que não é mais a mesma. Digo que luta sim, embora não seja a mesma. O mundo mudou, nós também. A UNE não precisa mais lutar contra o regime militar, mas sim pela abertura dos arquivos da ditadura. Não precisa mais lutar para ser ouvida pelo presidente, mas sim fazer pressão para que suas bandeiras sejam implementadas. Não dialoga com apenas 1% da população - que estava na universidade há algumas décadas, mas sim com milhões de estudantes universitários de todo o Brasil!

10% do PIB e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação são as principais bandeiras aprovadas no Congresso, mas acredito que a principal contribuição da UNE seja o brilho nos olhos daqueles que aprendem que lutar vale a pena, que é possível sonhar, que nossa juventude não se cansa, que estamos no caminho certo. Talvez a maior contribuição da UNE seja a renovação da esperança para a juventude brasileira!