sábado, 13 de novembro de 2010

ProUni e os pseudo doutores



O Brasil em que vivo é diferente do Brasil que meus irmãos viveram, e sem dúvida, muito diferente daquele que meus pais receberam. Tive que me mobilizar desde cedo contra o sucateamento da educação, com os desmandos do Governo Rigoto e Yeda (que governaram o RS durante meu ensino fundamental e médio). Assisti desrespeito a professores, falta de investimentos, desvalorização da educação. Tivemos nossas bibliotecas fechadas, turmas superlotadas e todos os anos enfrentamos a falta de professores, o que não mudou quando ingressei no ensino técnico, também de uma escola estadual.
Durante todos os momentos resistimos! Eu e meus colegas nos organizamos no Grêmio Estudantil e na União dos Estudantes de Novo Hamburgo e mostramos à sociedade a realidade da educação no RS. Fomos heróis por não desistir! Heróicos também, foram os professores, que aguentaram até mesmo a agressão quando reivindicavam melhores salários.
Além de sempre acreditar que era preciso lutar, assistimos a expansão do ensino técnico nos Institutos Federais, também das Universidades Federais. Percebemos que pelo menos no nível federal a educação estava recebendo um novo papel, com mais destaque. Era uma esperança.
A cara dessa nova maneira de ver a educação era um programa que durante anos foi muito combatido, por diversos setores da sociedade, de oposição ou até mesmo governistas: o Programa Universidade Para Todos, o ProUni.
O movimento estudantil me ensinou a valorizar cada passo dado na construção de um novo país e sem dúvidas, o ProUni era um deles.
Ao terminar o Ensino Médio sem perspectivas de entrar em uma universidade, consegui minha oportunidade graças à luta dos estudantes, graças aqueles que em momento algum optaram pelo discurso fácil e que tomaram lado, o lado dos estudantes e do Brasil!
Ingressei no curso de jornalismo com bolsa integral do ProUni.
No país inteiro, são cerca de 700 mil pessoas que podem realizar seus sonhos. Mas será que o ProUni serve apenas para isso? Ajuda individual?
Na minha opinião, não!
O Brasil precisa de médicos que saibam o que é enfrentar uma fila no posto de saúde ou de advogados que saibam o que é não ter dinheiro quando se precisa do profissional, e isso é só pra citar alguns exemplos. O povo precisa estar na universidade e ocupando cargos importantes para o desenvolvimento do Brasil!
Por isso não acredito que só aqueles 700 mil sejam beneficiados pelo programa, mas sim todo o país!
E é claro que esse é apenas um dos avanços que a educação e o Brasil vivenciaram. É claro também que isso vai contra os interesses daqueles que dominam o nosso país e que, ao contrário dos bolsistas, nunca enfrentaram uma fila no posto de saúde.
Os 8 anos de governo Lula simbolizaram quase uma década de raiva reprimida de setores poderosos. Setores que não querem pobres na universidade e que sabem que vem muito mais durante o governo Dilma. Setores enfurecidos!
Recebi a demonstração disso hoje pela manhã. Estive ajudando a limpar e organizar a sede da UENH e um casal passou destilando ódio contra a UENH, ódio contra os movimentos sociais, ódio contra o governo Lula que é na verdade o ódio que eles possuem contra o povo!
Obviamente, respondemos às agressões verbais com os argumentos construídos em nosso histórico de lutas. Acuados, perguntaram sobre nossa escolaridade e revelaram ser "doutores", como se isso os fizesse maiores do que alguém. Respondi ser estudante e, como de costume acrescentei o "bolsista do ProUni", ostentando um certo orgulho. Fui surpreendido com a resposta dos "doutores":
"Se vocês estivessem trabalhando, não precisariam do meu dinheiro para estar na universidade. Vocês do ProUni são uma cambada de vagabundos", bufaram.
Os xingamentos não pararam, nos chamaram de petistas corruptos, drogados e deram ênfase ao "vagabundos".
Não, "doutores", não somos nem nunca fomos petistas, menos ainda corruptos. Não somos drogados e nem vagabundos. Pensamos no Brasil enquanto vocês "doutores" não o fazem.
É obvio que não me refiro a todos aqueles que tem este título, mas estes em especial, estavam bufando de raiva, talvez mais do que isso, estava temerosos. Temerosos de ver este país que estamos construindo em que aqueles que eles consideram vagabundos por não ter dinheiro para entrar na universidade, tenha a oportunidade de se formar e fazer com que o Brasil cresça! E isso, "doutores", é o passo para o fim de pessoas raivosas e ignorantes, movidas a preconceitos e ódio.
Por isso, queridos "doutores", não descansaremos nunca.

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