Adalberto Frasson, reeleito presidente do PCdoB no Estado, concedeu entrevista ao ABC Domingo.
Cátia Chagas/Da redação
Porto Alegre - Adalberto Frasson foi reeleito presidente do PCdoB no Estado. Formado em Filosofia, ele integra a sigla desde 1981, ou seja, desde o tempo em que era "proibido" ser comunista no Brasil. Apesar da filiação histórica, Frasson incorpora hoje o novo discurso da cúpula do PCdoB, que foi cristalizado no Estado com a candidatura da deputada federal Manuela D’Ávila à prefeitura de Porto Alegre em 2008. No ano passado, o partido aceitou a coligação até com o PPS, da base de apoio da governadora Yeda Crusius (PSDB). Mas Frasson assegura que o PCdoB jamais abriu mão de suas convicções. E mais: garante que o fenômeno Manuela não se esgotou. Recentemente o Paulão do Vôlei, um herói olímpico, se filiou ao PCdoB. O curioso é que ele é oriundo do DEM. O senhor pode explicar essa filiação do ponto de vista ideológico? Adalberto Frasson - O Paulão passou pelo DEM mas ultimamente ele era filiado ao PT. O que importa é que o Paulão tem uma política voltada para o esporte que condiz com a política que o PCdoB vem aplicando hoje no País através do Ministério dos Esportes. O PCdoB ficou menos criterioso ou menos radical na hora de aceitar filiações? Frasson - Hoje o PCdoB se apresenta como um partido que tem um projeto para o Brasil. O PCdoB entende que para conquistar avanços para o Brasil, é preciso sim juntar os lutadores que estão dispostos a isto. E estes lutadores nós encontramos numa grande parcela da sociedade e, aliás, eu diria que a grande maioria do povo quer o avanço do País. Quando o partido faz uma aliança com o PPS, aliado da governadora Yeda Crusius, o PCdoB é menos criterioso ou menos radical? Frasson - O PCdoB está sendo coerente com a sua política de alianças. Nós achamos que amplitude é fundamental para levar um projeto adiante. Temos o grande exemplo do presidente Lula. Quando nós nos unimos aqui em Porto Alegre com o PPS, ou em outras cidades, é uma aliança feita em torno de um projeto. Se as forças políticas concordarem com aquele projeto, nós não temos problema nenhum em nos unirmos em torno de um projeto e não em torno de cargos ou favores. O PCdoB é o berço de um fenômeno eleitoral, a deputada Manuela D’Ávila. Muitos duvidam que repetirá aquela votação porque não é mais uma novidade. O senhor concorda? Frasson - Eu acho que a Manuela continua sendo uma novidade. Política séria, com princípios e uma política não raivosa. Neste sentido acho que é uma política para o Rio Grande do Sul, uma política sendo necessária e é uma liderança cada vez mais se projetando. O namoro da deputada Manuela com o deputado federal do PT de São Paulo José Eduardo Cardozo foi bem assimilado dentro do partido ou gerou, ou ainda gera, algum constrangimento? Frasson - Não tem nenhum constrangimento porque é uma questão da vida pessoal dela. Na política nós não tratamos dos indivíduos que participam do partido, portanto ela tem suas escolhas e nós respeitamos. Avaliando o fato um ano depois, o senhor considera que foi correta a decisão de lançar a deputada Manuela candidata a prefeita de Porto Alegre? Frasson - Uma grande atitude nossa. Ousada, na verdade, mas o PCdoB se constituiu na terceira força política da eleição na capital, enfrentando duas grandes forças: PT de um lado, PMDB do outro, que se concentraram no ataque à Manuela exatamente pela potencialidade que ela tinha e a possibilidade de ganhar a eleição. Naquela campanha, a deputada foi a primeira que levantou a necessidade da cidade se preparar para ser sede da Copa e com isso trazer investimentos para cá. A ex-deputada Jussara Cony concorrerá novamente à Assembleia Legislativa ou tentará outro cargo em 2010? Frasson - As discussões que nós estamos fazendo remetem para essa realidade, a ex-deputada concorrer novamente à Assembleia Legislativa. Nós achamos importante reforçar a presença da mulher na Assembleia. Ela poderá contribuir muito com a Assembleia e nos rumos da luta política do Estado, que precisa dar uma volta por cima dessa situação tão difícil em que se encontra. Em relação a 2010, a tendência é vocês apoiarem o candidato do PT, Tarso Genro? Frasson - Esta conclusão não está certa não. Nós defendemos a necessidade de construir no Rio Grande do Sul uma alternativa que supere não só a crise política, mas a crise econômica e social que o Estado vive. Para isso, nós achamos fundamental que essa alternativa esteja vinculada a este projeto nacional que nós iniciamos como governo Lula. Os partidos que formam a base do governo Lula no Brasil e aqui no Estado, são partidos com os quais estamos conversando e admitimos construir aliança com esses partidos. Até que ponto se deve levar a sério a hipótese de uma candidatura que junte partidos considerados menores, como PCdoB, PSB e o próprio PPS? Frasson - São possibilidades. O deputado Beto Abuquerque (do PSB) tem trabalhado nesse rumo e estamos sendo parceiros nisso. Nós achamos que o Estado anda perdendo muito com essa polarização forçada que existe na política do Rio Grande do Sul. Como assim? Frasson - Esse Gre-Nal na política não ajuda muito, ao contrário, nós temos criado problemas que dificultam o enfrentamento dos problemas do Estado por conta dessa disputa que às vezes vai além dos limites de uma disputa política. A ideia de um bloco novo, em torno de uma renovação, pode ser uma das alternativas do PCdoB para a disputa do ano que vem. O senhor admite a hipótese de se aliar em 2010 a algum partido que hoje seja base de sustentação da governadora? Frasson - Não admitimos, porque, sem o PT, o PSB e o PCdoB, PDT que saiu, todos eles (outros partidos) estão com a governadora Yeda. O DEM rompeu, mas o DEM é vice da Yeda. Portanto, os nossos parâmetros são os partidos que fazem parte da base do governo Lula. Nós achamos que esses partidos têm condições de constituírem uma alternativa no Estado que enfrentem a crise. O PCdoB tem a pretensão de indicar um candidato a governador ou ao Senado na hipótese de aderir a uma aliança, seja com o PT ou com outro grupo de legendas? Frasson - Nós podemos discutir isso. Nosso objetivo inicial é constituir essa aliança. Não temos como objetivo primeiro a presença na majoritária, mas é uma das possibilidades que o PCdoB, na mesa de negociações, tratará. Seria o objetivo fortalecer a presença na Câmara e na Assembleia? Frasson- Como partido nós pensamos muito nisso também, de ampliar nossa presença tanto na Assembleia quanto na Câmara. O partido cresceu muito nesse período. Temos grandes lideranças e achamos que podemos ter uma bancada bem maior. Como o senhor define o comunista nos dias de hoje? Frasson - Eu defino como o homem que tem esperança. O comunista hoje é o homem que tem esperança grande de construir um País que tenha condições de propiciar a vida cada vez mais digna ao nosso povo. Aliás, estamos vivendo isso, porque as últimas conquistas que o Brasil teve, descoberta do pré-sal, Copa 2014, Olimpíada de 2016, são exemplos dessa possibilidade. Aliás, ainda é possível crer em ideologias políticas no meio dessa salada em que se transformou a política? Frasson - Claro, é possível e necessário. Nós do PCdoB temos mais de 86 anos e desde o início defendemos que o socialismo é uma alternativa para a humanidade para enfrentar os problemas que se vive e hoje continuamos pensando nisso e lutamos por isso. A nossa ideologia continua sendo essa da construção de uma sociedade mais avançada que é sociedade socialista. Mas vocês mesmos têm um histórico de alianças com partidos de espectro ideológico diferente. Como explicar isso? Frasson - O povo brasileiro sabe que é preciso unir para construir e conquistar algumas coisas. O problema na eleição não é a ideologia que está colocada. Claro que ela está por trás dos projetos que os partidos apresentam, mas em uma campanha eleitoral, a gente precisa apresentar para a sociedade propostas que resolvam os problemas possíveis de serem resolvidos. Explique melhor. Frasson - Se não existe proposta, nós vamos ficar numa utopia e a eleição vai definir os governantes que vão ter que enfrentar esses problemas. Então a aliança está em torno de projeto viável, concreto para aquele período de governo. A ideologia serve como cimento, como base para isso, mas o projeto concreto para cada eleição é muito específico e ele pode unificar setores com ideologias diferentes inclusive. | |
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